Percentagem identifica dois desaparecidos sepultados na vala de Perus

A Percentagem de Mortos e Desaparecidos Políticos e a Universidade Federalista de São Paulo (Unifesp) identificaram os sobras mortais de Denis Casemiro e Grenaldo de Jesus Silva. Ambos estavam entre os desaparecidos políticos sepultados por agentes da ditadura militar na vala clandestina do Cemitério Dom Bosco, em Perus, na capital paulista.

“Ambos lutaram pela democracia e pela liberdade e foram presos pelo Tropa, torturados, assassinados e tiveram seus corpos desaparecidos. Identificá-los é um passo fundamental na reparação histórica e no recta à memória e à verdade”, disseram em nota divulgada nesta terça-feira (15).

Grenaldo era militar da Marinha brasileira, nascido em São Luís (MA). Foi recluso em 1964 e expulso da instituição enquanto reivindicava melhores condições de trabalho. Chegou a fugir da prisão e viver na clandestinidade, mas foi morto em 30 de maio de 1972 ao tentar tomar uma aeroplano no aeroporto de Congonhas, em São Paulo (SP).

Documentos do IML registraram que Grenaldo teria sido sepultado em 1º de junho de 1972 no Cemitério Dom Bosco uma vez que indigente, e constava uma vez que perdido, até ter seus remanescentes ósseos identificados pela equipe do Projeto Perus.

Já Denis Casemiro nasceu em Votuporanga (SP), foi pedreiro, trabalhador rústico e atuou politicamente na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Foi recluso em abril de 1971, torturado e executado pela equipe do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), coordenada pelo solicitador Sérgio Fleury. Na estação da morte dele, foram forjadas versões de tentativas de fuga que “resultaram em sua morte”.

Em 2018, os trabalhos já haviam identificado os remanescentes do irmão dele, Dimas Antônio Casemiro.

Identificação

Denis Casemiro já havia sido identificado em 1991. Mas, segundo a Unifesp, aquela havia sido uma identificação incorreta. Agora, os trabalhos conseguiram a confirmação por meio de uma lanço de compatibilidade genética.

O reconhecimento dos dois desaparecidos foi provável por meio do Projeto Perus, que procura identificar as ossadas encontradas na vala de Perus. O projeto é resultado de uma parceria do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, da prefeitura de São Paulo, da percentagem e da Unifesp, por meio do Meio de Antropologia e Arqueologia Judicial.

Grenaldo e Denis foram identificados poucos dias depois do governo federalista ter realizado um pedido de desculpas público quanto à negligência na guarda e identificação dos remanescentes ósseos da vala clandestina de Perus. Na ocasião, a ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, pediu desculpas aos familiares das vítimas.

“O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, em nome do Estado Brasílico, pede desculpas aos familiares dos desaparecidos políticos durante a ditadura militar brasileira, iniciada em 1964, e à sociedade brasileira pela negligência, entre 1990 e 2014, na meio dos trabalhos de identificação das ossadas, encontradas na vala clandestina de Perus, localizada no Cemitério Dom Bosco em São Paulo”, disse a ministra, na ocasião.

Um ato será realizado amanhã (16), na capital paulista, a partir das 11h, para anunciar os trabalhos de identificação. A cerimônia poderá ser acompanhada pelo YouTube.

Vala clandestina

A vala foi invenção pelo jornalista Caco Barcellos, em 1990, quando ele investigava homicídios praticados por policiais militares. Analisando laudos periciais em uma sala do Instituto Médico Legítimo (IML), em privado nos processos de 1971 a 1973, referentes a encaminhamentos de mortos feitos pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), o jornalista notou que havia a letra “T” escrita com lápis vermelho em alguns documentos. Ele portanto perguntou aos funcionários do IML o significado da marcação e descobriu que a letra T se referia a “terrorista”.

Barcellos comunicou a gestão da portanto prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, sobre a existência dessa vala, que determinou o início das escavações. No lugar, foram encontradas 1.049 ossadas sem identificação de vítimas de esquadrões da morte, indigentes e presos políticos.

Mal a vala foi invenção, a prefeitura assinou um convênio com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para a identificação das ossadas. Também houve encaminhamento para a Universidade Federalista de Minas Gerais (UFMG). O trabalho foi interrompido pouco tempo depois e, em 2002, as ossadas foram levadas para o Cemitério do Araçá, na capital paulista, sob responsabilidade da Universidade de São Paulo (USP). Mas a lentidão para desfecho do trabalho de identificação foi questionada em uma ação social pública de 2009, do Ministério Público Federalista.

Em 2014, uma parceria da Secretaria Peculiar de Direitos Humanos (hoje Ministério dos Direitos Humanos), da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania e da Universidade Federalista de São Paulo (Unifesp) permitiu a retomada do trabalho de identificação dos restos mortais resgatados da vala clandestina do Cemitério de Perus. Mas poucas ossadas foram identificadas até hoje.

Os sobras mortais de exclusivamente cinco pessoas, das 42  provavelmente assassinadas durante a ditadura militar e sepultadas na vala de Perus, haviam sido identificadas: Denis Casemiro, identificado em 1991; Frederico Eduardo Mayr (1992); Flávio Roble Molina (2005); Dimas Antônio Casemiro (2018) e Aluísio Palhano Pedreira Ferreira (2018).

[Agência Brasil]

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