No noroeste do estado de Mato Grosso, o povo indígena Rikbaktsa se organiza para retomar a produção de borracha, abandonada há pouco mais de uma dez. A atividade é considerada uma opção para gerar renda para as aldeias e também para ajudar na preservação das seringueiras, consideradas as mães da floresta.
Os Rikbaktsa pretendem que os territórios indígenas voltem a fornecer a matéria-prima à empresa francesa Michelin, que realiza compras de borracha na Amazônia.
Para os Rikbaktsa, a natureza deve ser cuidada, pois a floresta será deixada para os netos, bisnetos e todas as próximas gerações. Esse é o diferencial na hora da extração do látex, matéria-prima para a produção da borracha, das seringueiras. Nas terras indígenas, os ciclos da vegetal são respeitados, os cortes não são profundos e são feitas pausas na extração, para prometer que a vegetal se recupere.
Abundantes na região, as seringueiras, que podem viver mais de 200 anos, já foram motivo de disputa de território. Nas décadas de 1940, 1950 e 1960, o povo Rikbaktsa e os seringueiros viveram diversos conflitos. Mais recentemente, os indígenas passaram, eles mesmos, a produzir a borracha uma vez que forma de gerar renda. No entanto, os preços pouco atrativos, que chegavam a R$ 0,50 o quilo (kg), e a dificuldade de escoamento da produção fizeram com que abandonassem a prática.
A Amazônia vive um novo ciclo da borracha para os povos extrativistas, com um novo olhar para o transacção, agora sem atravessadores ou “patrões”, e com foco na sustentabilidade. Um dos propulsores é o projeto Juntos pela Amazônia – Revitalização da Calabouço Extrativista da Borracha, formado por organizações nacionais, uma vez que a organização não governamental (ONG) Memorial Chico Mendes, por organizações internacionais e por empresas interessadas nesse transacção, uma vez que a Michelin, uma das líderes mundiais em produção de pneus.
Nas terras indígenas do povo Rikbaktsa, é o projeto Biodiverso que presta espeque e faz a ponte com o Memorial Chico Mendes, que, por sua vez, conecta os territórios aos compradores. O projeto, patrocinado pela Petrobras, oferece também formação, ensino ambiental e equipamentos, além de cuidar da logística do escoamento do resultado.
Os territórios chegaram a comercializar com a Michelin em 2008, produzindo 17 toneladas de borracha, de combinação com o Biodiverso. Agora, esses acordos estão sendo retomados e a intenção é que se tornem mais duradouros.
Segundo o Biodiverso, a expectativa é que sejam comercializadas 90 toneladas de borracha nativa até 2027, considerando toda a superfície atendida pelo projeto, que engloba as TIs Erikpatsa, Japuíra, Escondido, Arara do Rio Branco, Aripuanã e Suplente Extrativista Guariba Roosevelt.
Retomada da produção
Nas aldeias, a retomada dos contratos está chamando a atenção dos indígenas. Antigos produtores e também jovens estão interessados em prometer uma renda com a extração do látex.
Na localidade Pé de Mutum, na TI Japuíra, Donato Bibitata, de 67 anos, é um dos indígenas que voltou a extrair o látex das seringueiras. Ele trabalhou com a produção da borracha há muro de 15 anos e a deixou por conta dos baixos preços. Agora, diz que a produção ficou mais encantador.
Experiente, Donato Bibitata explica que é preciso cuidar das árvores, dar o tempo necessário para que se recuperem e não trinchar muito fundo, para não “machucar” as vegetação e reduzir o volume da produção. “Tem que ter paciência, tem que ter dó também, não pode machucar muito. Se não, ela morre”, diz.
A teoria é que a atividade passe a atrair também os mais jovens, dando uma perspectiva de renda e porvir. “Tem muita seringueira cá na nossa região. Nosso território cá é rico de seringa, para tirar a borracha. Nós estamos intensificando [a produção], com mais gente, para que gere mais para os jovens, né?”, diz.
Perguntado sobre quantos anos vive uma seringueira, ele perde as contas.
“Cuidando muito, a seringueira vive mais que uma pessoa. Você cuidando muito, é uma coisa que faz a diferença. Seus netos continuam trabalhando. A gente fala para esses jovens de agora: a gente começa e, depois, vocês que vão terminar. São os jovens que estão crescendo e trabalhando. Se não machucar a seringueira, ela dura muito, vixe, mas dura”.
Donato Bibitata conta que teve uma puerícia dura. Foi uma das crianças indígenas que foram levadas para internatos católicos na dez de 1960. Lá, ele conta que não podia falar na língua Rikbaktsa, somente o português. “A gente aprendeu muita coisa boa e muita coisa ruim. A gente não tinha recta visitar mãe nem pai. Você tinha que falar só português. Se falasse a língua, a cultura, você apanhava”.
Quando terminou os estudos, o seringueiro voltou para o território indígena. Chegou também a ser professor municipal e, agora, jubilado, voltou a extrair o látex para prometer uma renda extra.
Ao contrário de Donato Bibitata, Rogerderson Natsitsabui, 30 anos, é novato na atividade e está interessado em aprender. “Isso chamou nossa atenção, né?”, diz. “[Essa atividade] já vinha com meus pais, meus avós e isso também me motivou. Vou trabalhar para mim, estou necessitando e acredito que muitos jovens estão no mesmo embarcação, portanto isso vai fortalecer muito”, diz.
Rogerderson Natsitsabui conta, no entanto, que a extração do látex servirá somente para complementar a renda, porque ele deseja cursar o ensino superior. O sonho é formar-se em recta, para defender para a localidade.
“Eu acredito que futuramente eu vou, se Deus quiser, ingressar numa faculdade. Para mim, isso é um progressão, mas eu nunca vou deixar o que eu aprendi cá”, diz. “Meu foco desde quando eu comecei a participar de mobilizações sempre foi o recta. Eu nunca desisti disso”.
Oportunidades
Segundo o assessor de Mercados do Biodiverso, Renato Pereira, a extração de látex tem uma vez que objetivo “prometer que essas famílias de extrativistas indígenas permaneçam nas suas áreas, protegendo seus territórios, sendo guardiões dos seus territórios, trabalhando com a floresta de pé, agregando o valor resultado”. Ele acrescenta:
“Aquilo que é tirado de uma maneira sustentável, tem mais valor”.
O projeto Biodiverso atua também na Suplente Extrativista (Resex) Guariba Roosevelt, onde também é feita a extração do látex. O principal comprador ali é a empresa francesa Veja, de calçados. Em 2024, nessa região, a produção chegou a 8,2 toneladas, comercializadas a R$ 15 por kg, chegando a um totalidade de R$ R$ 123 milénio para a Resex.
A intenção é que as TIs do noroeste do Mato Grosso sejam também beneficiadas e tenham comprador guardado. A partir de 2025, foi negociado inclusive um reajuste e o látex será comercializado a R$ 13 por kg para a Michelin, segundo o comentador de sustentabilidade da ONG Memorial Chico Mendes Jhassem Siqueira.
“Antes, a produção de borracha era uma produção explorada, associada a trabalho servo, por conta de figuras uma vez que atravessadores e do próprio patrão. Portanto, esse novo paradigma que essas empresas estabeleceram é expulsar a figura do patrão e ter contato direto com as associações [das terras indígenas e extrativistas]. Retomaram com o que a gente labareda de um preço justo, que elimina a figura do patrão”, diz Siqueira.
A parceria entre o Biodiverso e o coletivo Juntos pela Amazônia deverá ser firmada ainda levante ano, o que permitirá a formalização das vendas.
“Nós observamos a qualidade da borracha de Mato Grosso e de Rondônia e realmente é uma qualidade muito apropriada para Michelin”, explica o comentador de sustentabilidade. “A empresa já aceitou. O que nós estamos conversando agora é de que uma vez que é que a gente vai inserir eles nesse emendo. A gente tá nesse momento agora de formalização dos termos de parceria”, diz.
Biodiverso
O projeto Biodiverso é desenvolvido pela Organização da Sociedade Social de Interesse Público (OSCIP) Pacto das Águas e tem uma vez que objetivo promover o uso sustentável da sociobiodiversidade, com povos indígenas e comunidades tradicionais no noroeste do estado de Mato Grosso, uma vez que estratégia para mitigar o aquecimento global e as mudanças climáticas pela resguardo da conservação da floresta em pé.
O objetivo do Biodiverso é que o projeto possa dar suporte, ao todo, a 300 extrativistas na produção de 800 toneladas de castanha, 90 toneladas de borracha e 15 toneladas de óleo de copaíba com boas práticas de produção padronizadas e com assistência técnica periódica, até 2027. Com isso, espera-se prometer a conservação de 1,4 milhão de hectares no bioma amazônico.
O projeto é patrocinado pela Petrobras, uma vez que segmento do Programa Petrobras Socioambiental. Segundo o gerente de projetos ambientais na superfície de responsabilidade social da Petrobras, Gregório Araújo, o programa apoia atualmente 170 projetos distribuídos em quatro eixos: florestas, oceano, ensino e desenvolvimento econômico sustentável. As organizações da sociedade social patrocinadas são selecionadas por meio de seleções públicas.
“O projeto [Biodiverso] dialoga e dá uma resposta muito contundente em relação a soluções baseadas na natureza para o enfrentamento da mudança climática. Mostra que o a fala da Petrobrás não é descontextualizada, ela não é vazia, tem ações concretas, tanto do ponto de vista da operação, do ponto de vista da diversificação produtiva, quanto do ponto de vista dessas soluções mais difusas, é, que a gente faz com os projetos”, diz Araújo.
A invitação da Petrobras, que patrocina o projeto Biodiverso, a Filial Brasil visitou nos dias 8 e 9 de abril, três aldeias nas TIs Erikpatsa e Japuíra, do povo Rikbaktsa.
*A equipe da Filial Brasil viajou a invitação da Petrobras, patrocinadora do projeto Biodiverso