Os 12 anos do pontificado do papa Francisco foram marcados pelas recorrentes denúncias do director da Igreja Católica contra as guerras em curso no mundo, em privativo, os conflitos na Fita de Gaza e na Ucrânia, mas também as guerras no Sudão, no Congo, no Líbano, no Iêmen e na Síria.
Na última aparição pública no domingo (20) de Páscoa, o papa Francisco, mais uma vez, apelou pela silêncio na Ucrânia e pelo cessar-fogo em Gaza.
Foram diversas as manifestações do líder católico sobre Gaza. Quase todas as noites, ele ligava para a paróquia do enclave palestino para saber porquê a comunidade sítio estava. “É com dor que penso em Gaza. Ontem foram bombardeadas crianças. Isto é crueldade. Isto não é guerra”, disse Francisco no oração do Natal de 2024.
O papa Francisco sugeriu que a comunidade global deveria estudar se a investida militar de Israel em Gaza constitui um genocídio do povo palestino. O director da Igreja também vinha defendendo a ingresso de ajuda humanitária em Gaza, o que vem sendo impedido por Israel.
Aliás, ele criticou os supostos excessos militares de Israel. “A resguardo deve ser sempre proporcional ao ataque. Quando há alguma coisa desproporcional, você vê uma tendência de dominação que vai além da moralidade”, comentou em setembro de 2024.
O padre Gabriel Romanelli, que lidera a paróquia de Gaza, contou que falou com o papa, a última vez, no sábado (19).
“Esperamos que os apelos que ele fez sejam atendidos: que as bombas sejam silenciadas, que esta guerra termine, que os reféns e prisioneiros sejam libertados e que a ajuda humanitária à população possa ser retomada e chegar de forma consistente”, disse Romanelli ao Vaticano News.
Ucrânia
A guerra na Ucrânia também preocupava o líder da Igreja Católica. Tanto ele quanto outros representantes do Vaticano mantiveram diálogo com russos e ucranianos para que se chegasse a um combinação que levasse ao término do conflito, para troca de prisioneiros e outras tréguas.
Em novembro de 2022, antes da guerra de a Ucrânia completar um ano, Francisco revelou a jornalistas as conversas com autoridades da Ucrânia e da Rússia e disse que, para ele, tratava-se do início de uma novidade guerra mundial.
“Em um século, três guerras mundiais! A de 1914-1918, a de 1939-1945, e esta! Esta é uma guerra mundial, porque é verdade que, quando os impérios, seja de um lado, seja do outro, se enfraquecem, precisam fazer uma guerra para se sentirem fortes e também para vender armas! Porque hoje creio que a maior calamidade que existe no mundo é a indústria das armas”, destacou.
Encíclicas papais
Na última encíclica papal de Francisco (o mais importante documento assinado pelo director da Igreja Católica), publicada em outubro de 2024, o papa alertou que as guerras em curso estão fazendo a humanidade perder “seu coração”.
“Assistindo a sucessivas novas guerras, com a cumplicidade, a tolerância ou a indiferença de outros países, ou com simples lutas de poder em torno de interesses de secção, podemos pensar que a sociedade mundial está a perder o seu coração”, afirmou Francisco.
O primeiro papa latino-americano destacou que basta olhar e ouvir as avós de vítimas de conflitos armados. “É desolador vê-las chorar os netos assassinados, ou escutá-las desejar a própria morte por terem perdido a morada onde sempre viveram”, disse. O pontífice acrescentou que ver as avós chorar “sem que isso se torne intolerável é sinal de um mundo sem coração”.
Ao publicar a encíclica Laudato Si’, em 2015, o papa já alertava para o aumento das guerras no mundo. “É previsível que, perante o esgotamento de alguns recursos, se vá criando um cenário favorável para novas guerras, disfarçadas sob nobres reivindicações”, afirmou o pontífice.