Corrida Vira Antídoto Contra O Estresse E Inspira Histórias De Superação Nas Ruas De Salvador

Corrida Vira Antídoto Contra O Estresse E Inspira Histórias De Superação Nas Ruas De Salvador

Vitor Bahia*

As corridas de rua conquistaram de vez o coração dos soteropolitanos. A popularização do esporte em Salvador não apenas movimenta corpos, mas também transforma vidas — física, mental e emocionalmente. Mais do que um simples exercício, correr pelas ruas tem se tornado um estilo de vida, uma válvula de escape e, em muitos casos, um verdadeiro recomeço.

A corrida, aliás, é ancestral: seu registro mais antigo remonta a 776 a.C., com o “stadion” na Grécia Antiga, o principal evento da primeira edição dos Jogos Olímpicos. Desde então, o que era competição entre guerreiros se democratizou, se expandiu para ruas, parques e orlas, virando sinônimo de bem-estar e qualidade de vida.

E o melhor: não exige dom ou condição atlética. Exige vontade. A cidade viu crescer nos últimos anos o número de provas, maratonas e atletas amadores — impulsionados, em parte, pela visibilidade nas redes sociais e pelo apelo de uma vida mais saudável.

“As redes sociais foram determinantes nesse novo cenário. Elas democratizaram o acesso à informação e possibilitaram que mais pessoas conhecessem os benefícios da corrida. Atualmente, vemos muitas pessoas utilizando a corrida não apenas como prática esportiva, mas como parte de processos de cura, autoconhecimento e saúde mental”, disse Peralva.

Reprodução

Saúde

Segundo Peralva, correr pode ser tão eficaz quanto medicamentos no tratamento de transtornos emocionais. As corridas de rua auxiliam na saúde física, apresentam uma melhora considerável na qualidade de vida, além do condicionamento cardiovascular, fortalecimento muscular e na regulação do sono. Para além disso, Rafael Peralva classificou a corrida como uma ferramenta de transformação de vida.

“Cada vez mais, a corrida de rua se consolida como alternativa à medicação para depressão e ansiedade. Muitas pessoas trocaram o uso de medicamentos tarja preta pela prática regular da corrida, colhendo seus benefícios. Após uma corrida, o corpo libera seis neurotransmissores que promovem sensação de prazer e bem-estar.”, completou Rafael.

Transformação de vida

São incontáveis os exemplos de pessoas que mudaram completamente seu estilo de vida após tornar as corridas de rua um hábito. Daniel Sodré (29) é um atleta de corrida ex-obeso que já chegou a pesar 116kg, hoje coleciona pódios em competições de corrida e é tutor da equipe “fominhas de corrida”, para auxiliar e motivar novos corredores.

“A corrida pra mim é tudo, é o que me fez chegar onde estou, é o que fez eu ter a saúde mental e corporal que tenho hoje em dia… Não pretendo parar, tenho todo o cuidado com minhas pernas, vou ao médico, faço outras atividades como pilates e fortalecimento.”, afirmou Daniel.

Acervo pessoal

A experiência de Paula Thiala Santos, 32, também mostra o poder simbólico do esporte. Amadora, ela usa a corrida como uma ponte afetiva com o tio, que faleceu antes de vê-la brilhar nas competições — mas que foi seu maior incentivador.

“Ele sempre me motivava, falava que ainda iria me ver no pódio.  Quando eu comecei a correr e vi aquelas mulheres no pódio levantando um troféu, fez com que me motivasse a querer buscar também o pódio, para servir de inspiração para outras mulheres, e o meu tio era um incentivador, sempre falava que eu iria conseguir, sempre acreditou.”, disse Paula.

Acervo pessoal

Os desafios e riscos da elitização

Apesar do avanço e da paixão crescente dos baianos, há obstáculos que ameaçam a essência democrática do esporte. Para Peralva, o alto custo das inscrições tem afastado os chamados “corredores raiz”.

“Para resgatar a essência da corrida de rua, seria fundamental a realização de mais eventos gratuitos ou de baixo custo, organizados pelas prefeituras, com cotas destinadas às pessoas de baixa renda. Essas ações permitiriam que os ‘corredores raiz’ retornassem às pistas e que a corrida voltasse a ser o que sempre foi: um esporte acessível a todos, sem distinções”, defende o treinador.

Paula também faz coro às críticas: os prêmios não compensam o investimento dos atletas. “As corridas têm se tornado comercializadas”, aponta.

Seja para superar doenças, vencer o cansaço mental ou fazer novos amigos, o esporte se impõe como um dos mais acessíveis e transformadores. A rua é o campo. O corpo é o instrumento. E cada passo pode ser o início de uma nova história.

*sob a supervisão do jornalista Thiago Conceição.