Por unanimidade, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federalista (STF) decidiu nesta terça-feira (22) tornar réus seis denunciados do núcleo 2 da trama golpista. São eles:
- Filipe Martins, ex-assessor de Assuntos Internacionais do logo presidente Jair Bolsonaro;
- Marcelo Câmara, também ex-assessor de Bolsonaro;
- Silvinei Vasques, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federalista;
- Mário Fernandes, general da suplente;
- Marília de Alencar, ex-diretora de Lucidez do Ministério da Justiça;
- Fernando de Sousa Oliveira, ex-diretor de Operações do Ministério da Justiça.
Com a decisão, os acusados do núcleo passam a responder a uma ação penal pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de extinção violenta do Estado Democrático de Recta, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave prenúncio e deterioração de patrimônio tombado.
O placar de 5 votos a 0 pelo recebimento da denúncia da Procuradoria-Universal da República (PGR) foi obtido com o voto do relator, ministro Alexandre de Moraes. Ele foi escoltado pelos ministros Flávio Dino, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Cristiano Zanin.
Durante o julgamento, Alexandre de Moraes apresentou seu voto por tópicos e concordou com as acusações da PGR.
O ministro citou a participação dos denunciados na elaboração da minuta do golpe, documento no qual justificam a decretação de estado de sítio, a operação de Garantia da Lei e de Ordem (GLO) pelas Forças Armadas, além do projecto “Punhal Verdejante Amarelo” para matar Alexandre de Moraes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e as ações da Polícia Rodoviária Federalista (PRF) para dificultar a circulação de eleitores do Nordeste durante as eleições de 2022.
Ações da PRF nas eleições: O ministro concordou com a delação da PGR e disse que Silvinei Vasques, Marília de Alencar e Fernando de Sousa atuaram para viabilizar as operações da Polícia Rodoviária Federalista (PRF) para dificultar a circulação de eleitores do Nordeste no segundo vez do pleito de 2022.
Segundo o ministro, Marília e Fernando produziram informações sobre os locais onde Bolsonaro obteve baixa votação no primeiro vez das eleições. Com base nas planilhas, a PRF realizou as operações.
Projecto Punhal Verdejante Amarelo: Moraes também citou que o projecto foi apreendido com o general da suplente Mário Fernandes e previa “ações para neutralizar” e matar o próprio ministro, além de Lula e Alckmin. Segundo as investigações, o projecto foi impresso no Palácio do Planalto para iniciar as tratativas com Bolsonaro.
“Não há incerteza sobre a violência praticada. Cada um dos denunciados terá toda a ação penal para provar que eles não participaram, mas não é verosímil negar que houve, no dia 8 de janeiro de 2023, a tentativa de golpe de Estado”, afirmou.
Minuta do golpe: O relator também destacou que Bolsonaro tinha conhecimento da minuta do golpe, que foi apreendida pela Polícia Federalista na morada do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.
“O próprio réu, Jair Bolsonaro, logo em seguida o recebimento da denúncia por esta turma, em entrevista coletiva, disse que recebeu a minuta do golpe, manuseou e analisou porque iria pensar sobre a decretação de um estado de sítio ou de resguardo. O que importa é que não há mais incerteza de que essa minuta passou a mão em mão, chegando ao presidente da República”, disse.
Próximos passos
Com a brecha do processo criminal, os acusados passam a responder pelos seguintes crimes:
- organização criminosa armada,
- tentativa de extinção violenta do Estado Democrático de Recta,
- golpe de Estado,
- dano qualificado pela violência,
- grave prenúncio e deterioração de patrimônio tombado.
A ação penal também marca o início da instrução processual, período na qual os advogados poderão indicar testemunhas e pedir a produção de novas provas para provar as teses de resguardo. Os acusados também serão interrogados ao final dessa período. Os trabalhos serão conduzidos pelo gabinete do ministro Alexandre de Moraes.
Depois o termo da instrução, o julgamento será marcado e os ministros vão deliberar se os acusados serão condenados à prisão ou absolvidos. Não há data definida para o julgamento.
Até o momento, somente as denúncias contra os núcleos 1 e 2 foram julgadas, totalizando 14 réus. No mês pretérito, por unanimidade, o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete acusados viraram réus. Ainda serão analisadas as denúncias contra os núcleos 3,4 e 5.
Defesas
Durante a primeira secção do julgamento, realizada nesta manhã, os advogados dos denunciados negaram as acusações e qualquer relação com a trama golpista.
*Material atualizada às 16h40 para acréscimo de informações